domingo, 13 de setembro de 2009

A falácia do voto útil (e da fulanização da política)

Cada vez mais me dou conta da quantidade de conimbricenses que repetidamente me dizem: "Eu, eu vou votar na Manuela, para que não ganhe o Sócrates". Sem querer fazer aqui uma análise do que será melhor para o País, se um Governo liderado por Sócrates ou por Manuela Ferreira Leite (e aqui, curiosamente, não me parece que a resposta seja linear, ao contrário do que muito boa gente parece acreditar - mas deixemos essa reflexão para outra oportunidade), proponho-me desmistificar a falácia de votar PSD enquanto voto útil, com destaque para o panorama de Coimbra.

1. Em primeiro lugar, há que recordar que as eleições legislativas de 27 de Setembro, tal como o nome indica, se destinam a eleger os deputados à Assembleia da República e não o primeiro-ministro. De facto, há bons motivos para crer que, numa proporção muito significativa dos casos, o voto de cada um é absolutamente irrelevante na definição da figura que será a principal responsável pela governação do País.

2. Recordemos que o círculo eleitoral de Coimbra tem 10 deputados para eleger. De acordo com a história das eleições anteriores, considerando todas as sondagens e a disposição geral dos eleitores do distrito, nada leva a crer que:
a) o PSD não seja o partido mais votado, com 5 mandatos
b) o PS não seja o segundo partido mais votado, com 4 ou 5 mandatos
c) o BE não seja o terceiro partido mais votado, tentando eleger um deputado

Esta não é uma perspectiva derrotista, mas sim uma perspectiva realista: eu estou confiante que o MEP vai obter uma votação respeitável, gostaria que conseguisse eleger 2 ou 3 deputados, mas só uma atitude psicótica me permitiria sustentar esse desejo!
Disto resulta que, numa perspectiva do que é o voto útil, só haja dois votos expressos que podem ter significado em termos da composição da AR para a próxima legislatura: o voto no PS e o voto no Bloco. Ou, posto de outra maneira: do ponto de vista do voto individual de cada cidadão, cada voto em qualquer partido que não seja o PS ou o BE (MEP, PSD, CDS, FEH, CDU, etc.) é um voto que será desperdiçado, já que não terá efeitos práticos para a eleição de qualquer deputado - e aqui está toda a base para a contestação, a meu ver legítima, ao nosso sistema eleitoral, dito proporcional, que não assegura uma efectiva representação dos cidadãos. Para quem pretende castigar o partido de Sócrates, mas não encontra pontos significativos de contacto com o BE, isto resulta numa grande dor de cabeça...

3. Retomemos as mais recentes sondagens de opinião; nomeadamente, a Sondagem Expresso publicada dia 10.

Passando por uns momentos por cima do absurdo que continua a ser a ausência do MEP de todas estas sondagens, podemos constatar que, se as previsões se confirmarem, só duas coligações pós-eleitorais poderiam reunir o número de deputados suficiente para garantir um governo estável para a próxima legislatura: ou uma coligação da Esquerda com PS, BE e CDU (irrealizável, tendo não só em conta o relacionamento do PS de Sócrates com qualquer dos outros dois partidos, como também o próprio relacionamento entre CDU e BE), ou entaão a temida alternativa do Bloco Central, uma coligação entre PS e PSD. Mais uma vez, uma grande dor de cabeça: votar PSD para que o PS não forme governo ou votar PS para que o PSD não forme governo pode simplesmente acabar no que seria para muitos um monumental pesadelo, isto é, um Governo formado por PS e PSD!

Importa pois perceber que no dia 27 há muito mais em jogo para além da escolha MFL/JS, que até pode nem ser uma escolha real! O que está em jogo é que futuro queremos, que Portugal queremos construir. Por um Portugal melhor, eu acredito que um pequeno grupo parlamentar do MEP pode fazer toda a diferença - é por isso que me bato!

Há que resistir à falaciosa tentação do "voto útil"! O voto que é verdadeiramente útil é o voto que pretende dar dimensão ao partido que melhor expressa as nossas convicções. Para mim, o voto útil é o que defende a política da árdua esperança, a convicção que melhor é possível, que é possível construir Portugal. Por um Portugal mais humanista, com uma economia social de mercado, com um Estado tão pequeno quanto possível e tão grande quanto necessário, eu votarei MEP!

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